Dissertar sobre aquilo a que é comum chamar-se teoria da
conspiração e que, em boa verdade, não se sabe muito bem o que é, está na moda.
Dir-se-á que é um tema aconselhado para o período de férias, silly season onde
tudo é tratado como fait-divers, desde as estatísticas do desemprego às cidades
melhores e piores para se viver – para o caso de estarem distraídos deve
evitar-se Damasco, coisa de que ninguém suspeitava.
Pois as teorias da conspiração também têm os seus top-ten com
os quais não vale a pena gastar tempo e espaço, a não ser para sublinhar que nessas
listas se misturam alhos com bugalhos, isto é, coisas muito sérias manipuladas
e escondidas deliberadamente da opinião pública com delírios e bizarrias que
alimentam a internet e também alguns órgãos de comunicação social que encabeçam
as listas dos mais respeitáveis – listas essas fabricadas pelos próprios.
O tema pode ser estival, porém nada tem de inocente. Muito
menos quando se misturam coisas que não cabem, nem podem caber, no mesmo saco.
Por exemplo, quando se colocam ao mesmo nível as investigações que não
coincidem com a versão oficial dos atentados de 11 de Setembro de 2001 com as
lendas sobre o facto de figuras como Elvis Presley ou Michael Jackson não terem
morrido.
Tratar com ligeireza e imbecilidade um tema como este, o da
chamada teoria da conspiração, é uma maneira de colar o mesmo rótulo de
descrédito em denúncias fundamentadas sobre assuntos importantes mal contados
por quem nos governa e em idiotices chafurdadas em revistas de fofocas e
websites para alarves. Ou seja, é uma mistificação que, no limite, desvaloriza
trabalhos sérios – como acontece em investigações sobre o 11 de Setembro – que não
coincidam com as versões dos poderes sobre este ou aquele acontecimento.
Trata-se de uma manobra insidiosa para invalidar o contraditório, para amarrar
a opinião pública a uma explicação única e definitiva das coisas em vez de a
por a reflectir sobre as realidades que nos cercam. É interessante, por
exemplo, que haja jornalistas a colaborar nesta mistificação mesmo sabendo – ou
devendo saber – que estão a enviar para o grupo dos aldrabões e lunáticos os
seus camaradas de profissão que fazem o que têm a fazer: investigar, procurar
verdades, sobretudo quando são escondidas.
Encafuar as investigações sérias e os factos já apurados
sobre assuntos que determinam o andamento do mundo em que vivemos na mesma gaveta
das teses peregrinas sobre a Terra ser oca e o homem nunca ter ido à Lua é um
exercício estival de quem passa o tempo a catalogar como teorias da conspiração
as demonstrações de actos e acontecimentos que não cabem na verdade oficial,
logo seguidas e repetidas até à exaustão pela corte dos comentadores papagaios
avençados pelo sistema único. Gente para quem o facto de o golpe na Ucrânia ter
conduzido a um governo fascista, ou a possibilidade de o MH 17 não ter sido
derrubado por um míssil russo, ou a circunstância de haver produtos comercializados
pela multinacional Monsanto que envenenam pessoas e o planeta, ou a invasão do
Iraque ter sido baseada num chorrilho de mentiras, ou o neoliberalismo existir
e ter criado a crise como regime global estão ao mesmo nível de seriedade das
teses segundo as quais o presidente Eisenhower assinou acordos com
extraterrestres ou Saddam Hussein preparou a invasão do planeta por alienígenas.
Quando exercícios deste tipo se realizam com a participação
de centrais de propaganda como por exemplo as que servem as estratégias desenhadas
pelo Grupo de Bilderberg percebe-se que neles nada há de inocente. Tais órgãos
justificam, nesta matéria, o porquê de se auto intitularem “meios de referência”.
De facto, basta-lhes seguir o rasto para se conhecerem, passo a passo, as
tendências dominantes de quem segue as regras de manipulação e intoxicação dos
cidadãos ao serviço do regime único.
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