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domingo, 9 de agosto de 2015

A TRAIÇÃO DOS VOTOS PIEDOSOS


 
O primeiro ministro do Japão, o nacionalista Shinzo Abe, e o secretário-geral da ONU, um sul-coreano ao serviço dos Estados Unidos da América, protagonizaram os votos piedosos e de circunstância proferidos a propósito da chacina cometida há 70 anos pela Administração norte-americana contra a população civil da cidade de Nagasaki.
No memorial que recorda e homenageia as vítimas do maior atentado terrorista da História, a seguir ao praticado três dias antes contra Hiroxima, Shinzo Abe e Ban Ki-moon declararam-se favoráveis a um mundo livre de armas nucleares e o segundo manifestou até o desejo de que a bomba de Nagasaki tenha sido a última usada contra seres humanos.
Piedosas palavras estas. Piedosas e traiçoeiras, porque ambos os dirigentes não tiveram pejo em usar o luto e a emoção do lugar e do momento ao serviço de uma doentia manobra de propaganda. No exercício das suas importantes funções, Shinzo Abe e Ban Ki-moon não apenas agem em sintonia com os interesses que recorrem à ameaça terrorista nuclear como sabem que, pelo caminho seguido por eles próprios, jamais haverá um mundo livre da ameaça atómica. Os dois dirigentes mentiram e traíram num momento que lhes deveria ter merecido o maior dos respeitos porque entre os seus contemporâneos e compatriotas, no caso do chefe do governo nipónico, ainda há quem morra hoje por causa da bomba de Nagasaki, mesmo que tenha nascido depois do dia do horror de 9 de Agosto de 1945.
O que Shinzo Abe e Ban Ki-moon fizeram é revoltante, emerge da mais repugnante insensibilidade e entra pelos caminhos da propaganda terrorista.
Shinzo Abe representa o regresso do Japão à mentalidade nacionalista imperial, num quadro de rearmamento das suas tropas e de retorno às tentações intervencionistas. O Japão de Shinzo Abe é um peão da estratégia de “pivot asiático” engendrada pela Administração Obama para deslocalizar o núcleo duro do posicionamento militar imperial para o interior da Ásia. Ou seja, o Japão afirma-se como o mais importante aliado regional dos Estados Unidos da América na sua estratégia de confrontação assumida com a China, a Rússia e os demais países que decidam por si próprios e não através das ordens emanadas de Washington.
Como Shinzo Abe sabe muito bem, o arsenal assassino de armas nucleares faz parte dos instrumentos de terror manipulados no âmbito da estratégia de “pivot asiático”, como de qualquer outra estratégia imperial. Com a diferença de que, por esta via, as cidades japonesas podem considerar-se livres da ameaça nuclear directa – mas não dos seus ricochetes.
Shinzo Abe é um militarista, um frequentador atento, venerador e obrigado das cimeiras do G7, um dos chapéus usados pelo imperialismo, e sabe muito bem que as doutrinas expansionistas assentam na intimidação terrorista na qual se inserem as armas nucleares.
Quanto a Ban Ki-moon, não será preciso perder mais tempo e espaço com este ex-chefe do regime da Coreia do Sul, um zeloso servente de Washington levado para o topo de uma Organização das Nações Unidas tornada uma caricatura de si mesma e das intenções com que foi criada. Olhe-se para o estado em que se encontra o Médio Oriente, onde as responsabilidades da ONU pelo caos existente são gritantes, tanto por intervenção como por omissão.
As faces compungidas e as palavras solenes de Shinzo Abe e Ban Ki-moon no memorial às vítimas do terrorismo nuclear de Nagasaki são uma traição a quantos sofreram e sofrem ainda os seus efeitos; e são um exemplo da propaganda hipócrita que deve considerar-se ainda mais terrorista quando, como é o caso, recorre a votos piedosos. É feio, muito feio mesmo manipular a sensibilidade e o desgosto das pessoas para que, ao-fim-e-ao-cabo, continuem a viver no meio do medo e do sofrimento.
 

 

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