O primeiro ministro do Japão, o nacionalista Shinzo Abe, e o
secretário-geral da ONU, um sul-coreano ao serviço dos Estados Unidos da América,
protagonizaram os votos piedosos e de circunstância proferidos a propósito da
chacina cometida há 70 anos pela Administração norte-americana contra a
população civil da cidade de Nagasaki.
No memorial que recorda e homenageia as vítimas do maior
atentado terrorista da História, a seguir ao praticado três dias antes contra
Hiroxima, Shinzo Abe e Ban Ki-moon declararam-se favoráveis a um mundo livre de
armas nucleares e o segundo manifestou até o desejo de que a bomba de Nagasaki
tenha sido a última usada contra seres humanos.
Piedosas palavras estas. Piedosas e traiçoeiras, porque
ambos os dirigentes não tiveram pejo em usar o luto e a emoção do lugar e do
momento ao serviço de uma doentia manobra de propaganda. No exercício das suas
importantes funções, Shinzo Abe e Ban Ki-moon não apenas agem em sintonia com os
interesses que recorrem à ameaça terrorista nuclear como sabem que, pelo
caminho seguido por eles próprios, jamais haverá um mundo livre da ameaça
atómica. Os dois dirigentes mentiram e traíram num momento que lhes deveria ter
merecido o maior dos respeitos porque entre os seus contemporâneos e
compatriotas, no caso do chefe do governo nipónico, ainda há quem morra hoje
por causa da bomba de Nagasaki, mesmo que tenha nascido depois do dia do horror
de 9 de Agosto de 1945.
O que Shinzo Abe e Ban Ki-moon fizeram é revoltante, emerge
da mais repugnante insensibilidade e entra pelos caminhos da propaganda
terrorista.
Shinzo Abe representa o regresso do Japão à mentalidade
nacionalista imperial, num quadro de rearmamento das suas tropas e de retorno
às tentações intervencionistas. O Japão de Shinzo Abe é um peão da estratégia
de “pivot asiático” engendrada pela Administração Obama para deslocalizar o
núcleo duro do posicionamento militar imperial para o interior da Ásia. Ou
seja, o Japão afirma-se como o mais importante aliado regional dos Estados
Unidos da América na sua estratégia de confrontação assumida com a China, a
Rússia e os demais países que decidam por si próprios e não através das ordens emanadas
de Washington.
Como Shinzo Abe sabe muito bem, o arsenal assassino de armas
nucleares faz parte dos instrumentos de terror manipulados no âmbito da
estratégia de “pivot asiático”, como de qualquer outra estratégia imperial. Com
a diferença de que, por esta via, as cidades japonesas podem considerar-se
livres da ameaça nuclear directa – mas não dos seus ricochetes.
Shinzo Abe é um militarista, um frequentador atento,
venerador e obrigado das cimeiras do G7, um dos chapéus usados pelo imperialismo,
e sabe muito bem que as doutrinas expansionistas assentam na intimidação
terrorista na qual se inserem as armas nucleares.
Quanto a Ban Ki-moon, não será preciso perder mais tempo e
espaço com este ex-chefe do regime da Coreia do Sul, um zeloso servente de
Washington levado para o topo de uma Organização das Nações Unidas tornada uma
caricatura de si mesma e das intenções com que foi criada. Olhe-se para o
estado em que se encontra o Médio Oriente, onde as responsabilidades da ONU
pelo caos existente são gritantes, tanto por intervenção como por omissão.
As faces compungidas e as palavras solenes de Shinzo Abe e
Ban Ki-moon no memorial às vítimas do terrorismo nuclear de Nagasaki são uma
traição a quantos sofreram e sofrem ainda os seus efeitos; e são um exemplo da propaganda
hipócrita que deve considerar-se ainda mais terrorista quando, como é o caso,
recorre a votos piedosos. É feio, muito feio mesmo manipular a sensibilidade e
o desgosto das pessoas para que, ao-fim-e-ao-cabo, continuem a viver no meio do
medo e do sofrimento.
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