Algumas das mais ilustres explicações sobre o que se vai
passando nos nossos quotidianos, intra ou extra-fronteiras, são remetidas para “os
reguladores”. Os reguladores são, por isso, uma espécie de juízes, árbitros, ou
mesmo deuses que determinam se os mecanismos que fazem funcionar a sociedade
são aplicados segundo os parâmetros não propriamente das leis mas sim dos
equilíbrios que, segundo os reguladores, devem existir.
Há reguladores para tudo e depois, vai-se a ver, são tantos
que pouco ou nada regulam e, quando o fazem, mais valia que estivessem quietos.
O Banco de Portugal, por exemplo, deixou de ser banco
central e passou a “regulador”. Depois existem reguladores para a concorrência,
a energia, a saúde, a comunicação social (valha-nos Deus!), a bolsa de valores,
os combustíveis e o mais que descubram na vossa memória e pesquisem nas boas
falas de analistas, colunistas, comentadores, moderadores e outros querubins do
regime.
Reguladores há-os intra e extra-fronteiras, isto é, no aconchego
de cada país e na grande metrópole europeia. Por isso os reguladores se
multiplicam como cogumelos, tropeçando uns nos outros, remetendo competências
de uns para os outros (quando a batata é supostamente quente) para, no fim das
contas, nada regularem e tudo aceitarem.
Porque os reguladores, por definição do próprio regime em
que vivemos, a que alguns têm a ousadia de chamar democracia, são fogos-fátuos,
miragem para entreter cidadão, sinecuras para clientelas do arco da governação
amealharem mais uns cobres do erário público – para isso pagamos os nossos
impostos, que já somam, só este ano, mais 900 milhões que no ano passado.
Grande e boa democracia fiscal!
Não será novidade escrever que uma das grandes virtudes
proclamadas por todos os governos que, a diversas velocidades, vão destruindo
países e demonstrando que a União Europeia nunca foi mais do que conversa para
os ricos ficarem mais ricos, é a “desregulação”. Desregulação da economia,
desregulação do mercado de trabalho, desregulação da comunicação social,
desregulação das viagens aéreas, dos caminhos-de-ferro, do sector bancário, da
energia. Desregulação, enfim, de tudo o que seja bom negócio privado e que
ainda permaneça nas indignas manápulas do Estado, o qual, por definição, deveria
ser de nós todos. Ainda assim, e mesmo que o não seja, desregulação é o que é:
tirar ao Estado para entregar aos senhores privados, quanto maiores melhores e
mais aptos a aproveitar os saldos organizados por governos, troikas e
adjacências; e também zelar para que a desregulação prossiga como deve ser,
desreguladamente no sentido da total anarquia capitalista, o apogeu do
neoliberalismo.
Ora se o segredo é desregular, para que servem então os
reguladores? Bem, poderíamos reunir alguns exemplos lusitanos, como o
comportamento do regulador, o Banco de Portugal, no BPN, BES e o mais que não
se sabe e provavelmente jamais virá a saber-se, as atitudes dos reguladores nas
vendas e privatizações, da EDP à TAP, dos Estaleiros Navais de Viana aos
aeroportos e ao desmantelamento da indústria. Negócios em que o Estado saldou
para supostamente pagar uma dívida incobrável e os privados engordaram que nem
odres com o beneplácito – é ponto assente – dos reguladores, locais e
bruxelenses. E quando a coisa não cheira lá muito bem a Bruxelas, como a da TAP,
aliás agora Air Barraqueiro – que fede em todo o lado – o regulador central
declara-se “incompetente” (olha a novidade!) e devolve a bola à origem para que
tudo decorra na santa podridão de sempre.
Pois é, os reguladores não regulam, dizem amen ao saque dos
bens públicos e às batotas do regime de cleptocracia, de que são parte integrante.
Os reguladores dão cobertura às traficâncias do sistema, supostamente em nome
de todos nós e sem que ninguém os tenha eleito. E que outro papel poderiam ter
os reguladores quando a essência do regime é a desregulação?
Sem comentários:
Enviar um comentário