Brasil saudoso do antigamente quer sangue (foto Portal Vermelho)
A operação deste domingo falhou, esfumou-se em manifestações
de cacaracá que deixaram pendurados os chefes golpistas, mas a ameaça continua
latente, agora apontada a quinta-feira, dia 20. O Brasil da ditadura militar e
dos chefes políticos que fizeram do país uma quinta dos Estados Unidos da
América, nadando em ávida e incontrolável corrupção, está ao ataque servindo-se
dos mais sagrados dos direitos democráticos, entre eles o de manifestação. Nada
que não se passe igualmente na Venezuela, ou na Bolívia, ou no Equador, e que
não se tenha passado nas Honduras e no Paraguai ou na europeia Ucrânia. Os
métodos podem variar pontualmente, aqui, ali ou acolá, mas os objectivos são
sempre os mesmos: inverter uma situação política determinada em democracia
quando as práticas dos eleitos não são do agrado das estruturas, dos interesses
e das ambições dos que se acham ungidos pelo direito eterno de governar.
Lula, Dilma e os seus governos foram e são perfeitos? Quem o
for que lhes atire a primeira pedra. Cederam a pressões de interesses que agora
querem chutá-los com o pontapé do impeachment ou, no mínimo, frustrar deste já
a possibilidade de o anterior presidente voltar à liça nas próximas eleições?
Sem dúvida. Mas o Brasil do último decénio e meio é diferente, a governação
destina-se prioritariamente aos que sempre foram esquecidos pelos regimes
daqueles que têm mentalidade de guarda das capoeiras do quintal das traseiras.
Esta ousadia é imperdoável, sobretudo prolonga-se há tempo demasiado, a
paciência dos senhores está a esgotar-se, por isso os seus agentes e
desordeiros parecem atacados por uma praga de bichos-carpinteiros.
A figura de proa entre os cabecilhas da intentona é o
corrupto e fascizante Aécio Neves, candidato presidencial derrotado
inapelavelmente nas urnas pela presidenta Dilma Roussef e que está mais ocupado
em derrubar a administração do que em esclarecer os múltiplos indícios de
fraudes nas contas da sua candidatura. Comportamento quem não surpreende em
quem deixou um pestilento rasto de corrupção e nepotismo enquanto governador de
Minas Gerais. Ao invés, o procurador do chamado caso Lavajato - um escândalo de
corrupção na empresa estatal de petróleos Petrobrás que serviu para despoletar
a actual fase golpista – declarou que nem a presidenta Dilma Roussef nem o
ex-presidente Lula da Silva estão a ser investigados sobre o assunto.
Aécio Neves e seus comparsas, como José Serra e Aloísio
Numes, ecoados por uma comunicação social servil e regidos pela maestria táctica
da Rede Globo, representam um Brasil dependente e obediente que ficou para trás
e prometem agora o regresso de um Brasil do antigamente, asfixiado pelo cheiro
a mofo e a sangue. O alvo a abater é um Brasil que em pouco mais de uma década
passou a enfileirar entre as grandes potências mundiais, com voz própria, digna
e cada vez mais interveniente nas tendências mundiais alternativas às que são
ditadas pelos senhores do Império.
Não surpreende que entre os passeantes na marcha do
revanchismo estejam os que lançam, sem reservas, apelos ao golpe militar, aos
assassínios dos dirigentes políticos eleitos, à liquidação da democracia. Nada disso
demove Aécio e companhia, pelo contrário, tais consignas empolgam-nos. A eles e
não só: há poucos dias uma bomba estoirou no Instituto Lula e das hordas
aecianas não se ouviu qualquer sinal de repúdio; e no dia 13 a Polícia Militar –
entidade com a qual a fina flor das elites paulistas, os “coxinhas”, gostam de
fazer selfies – entrou encapuzada por vários estabelecimentos dos subúrbios de
São Paulo e chacinou 18 pessoas a tiro, supostamente como vingança pela morte
de um agente. No entanto, apenas seis das vítimas tinham algum registo
cadastral. No circuito de apelos ao golpe e de incitamentos à liquidação de
dirigentes não surpreende que surjam estas matrizes comportamentais próprias
dos esquadrões da morte.
Os golpistas marcaram mais uma enxurrada de manifestações para
a próxima quinta-feira, dia 20. Não se deixem iludir: as manobras não têm nada
a ver com o combate à corrupção, o alívio da crise económica ou o
aprofundamento da democracia e dos direitos humanos. Nada disso: mesmo que
muitos dos que se deixam arrastar não o admitam, trata-se de uma estratégia
golpista para o regresso ao passado de um Brasil subserviente, sem voz, um
Brasil onde o governo servia numa bandeja os bens que pertencem a todos a uma
pequena elite nacional e internacional de ricaços.
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