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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

52 LONGOS DIAS…


 
Parece que Portugal já tem governo. Ou melhor, a lista governativa apresentada pelo primeiro-ministro “indicado” e não “indigitado” – é complexa e retorcida a semântica de Belém – está a ser filtrada pelo senhor Presidente da República em exercício, acção legítima, quiçá, mas jamais divulgada aos cidadãos nestes termos acintosos, dir-se-iam ressabiados. Talvez o senhor Chefe do Estado queira inteirar-se da eventualidade de estar por ali escondida alguma ameaça terrorista, algum “feroz” inimigo da NATO, um sinistro contestatário do euro e da liderança absoluta dos mercados. Espécie de portugueses bastardos, ao que consta.
Nesta manobra se vão perdendo mais uns dias, já lá vão 52 desde as eleições gerais e mais de duas semanas desde os acordos que selaram a existência de uma maioria parlamentar que permite a formação de um governo legítimo, estável e coerente – tudo o que não é garantido pelo executivo demitido mas que tarda em largar o poder.
Cinquenta e dois longos dias em que o senhor Presidente gerou uma cacofonia de conceitos sobre a suposta maldição que assaltou o país através de entendimentos políticos entre partidos que desmantelaram a ilegitimidade do chamado “arco da governação”, espécie de travesti de partido único talhado à medida de financeiros e agiotas globais. Entre figuras e figurões que integraram a romaria dos que o foram aconselhar, de tal competência que muitos deles, há um ano apenas, juravam que a solidez do BES era de betão – o senhor Presidente foi ainda escutar as cagarras madeirenses para finalmente se render à evidência – sem se dar por convencido - de que a melhor prática democrática e republicana é entregar a formação dos governos às maiorias parlamentares.
Antes ainda de se retirar para fiscalizar a lista ministerial que lhe foi entregue por António Costa, o Chefe do Estado Português apresentara exigências, digamos, insólitas para quem tinha a obrigação de conhecer de cor e salteado os acordos de incidência governamental da maioria e também o programa de governo do Partido Socialista deles resultantes. O senhor Presidente apresentou meia dúzia de condições com duas interessantes particularidades: nenhuma delas revelava preocupação com as pessoas, mas sim com os falcões da NATO, os suseranos de Bruxelas, os magarefes das finanças, além de proclamar o absolutismo de tratados que hipotecam a soberania nacional; e quando olhadas uma por uma, nenhuma dessas condições poderia ser cumprida pelo governo ainda em funções, muito menos as de governabilidade, durabilidade e estabilidade, porque não dispõe este executivo de maioria parlamentar, isto é, de base para governar. Tirar uma tal conclusão nada tem de abusivo e especulativo: o senhor Presidente não impôs as mesmas condições ao primeiro governo que empossou, o qual em poucos dias ruiu fragorosamente, vítima da aritmética simples do funcionamento parlamentar. Assim sendo, o conceito presidencial de estabilidade e de durabilidade para quatro anos digamos que é flexível.
Dir-se-ia, através do arrastamento destes processos, que o senhor Chefe do Estado não se importou de deixar o país refém dos seus humores de mau perdedor, do feitio de vingativo que lhe veio ao de cima, por exemplo, no discurso de reeleição. Houve mesmo agentes económicos e até membros da academia de novos feiticeiros conhecidos como “politólogos” que desaconselharam tal comportamento, por ser susceptível de irritar os mercados levando-os a castigar o país – isto é, não o senhor Presidente mas as pessoas, os cidadãos comuns - e a dificultar desnecessariamente a vida ao próximo governo.
E, contudo, Portugal sobreviveu. Os sapientes “analistas” financeiros, outra casta de bruxos em funções, surpreendem-se até que o mais recente leilão de dívida pública portuguesa a dez anos tenha decorrido com juros contidos – dir-se-ia até, pelo tom dos comentários, que desejariam o contrário para não terem de engolir as previsões catastrofistas.
Portugal sobreviveu, mas em cacos, e 52 dias assim desbaratados não lhe dão saúde, muito menos ao coração do país, as pessoas. Agora há que limpar e arrumar a casa e tentar ir o mais longe possível na sua restauração ao serviço dos cidadãos. Infelizmente a varredela do Palácio de Belém ainda tem de esperar até Março.
 

1 comentário:

  1. 52 dias de um flop total, Cavaco, no seu melhor, deixou o Pais em suspenso quase 2 meses. Ora, era precisamente para evitar isso, que foi eleito(não por mim, felizmente). Cavaco Silva actuou sempre como putativo Presidente do PPD/PSD ou lá o que aquilo é e não como um PR.O Actual PSD/PPD. É um saco de cães raivosos, pendurados no próprio umbigo

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