Dizem as notícias que o governo de Portugal se prepara para
pagar mais 53 milhões de euros aos colégios privados, em cima dos milhões que
já esbanja, para que criem mais de 600 turmas, em cima das que já existem, destinadas
a acolher alunos do sistema de educação pública. O senhor ministro Crato é um
homem generoso e de bem, visivelmente preocupado com o futuro dos jovens
portugueses, os seus dotes para a equitação e outras práticas de bom-tom
almejadas pela generalidade das famílias.
Acrescentam as notícias que muitas dessas turmas funcionarão
em estabelecimentos privados vizinhos de escolas públicas, as quais ficarão
cada vez mais vazias de professores e estarão desde já condenadas a um presente
penoso e a um futuro sem futuro.
Quem quer educação que a pague, é o lema do governo e do seu
ministro das escolas privadas. Embora o pagamento, eventualmente, não seja suportado
na íntegra pelos pais, sê-lo-á, em última análise, pelos contribuintes,
sujeitos a uma carga fiscal criminosa para que se desenvolvam processos de
engorda do sector privado, onde nem sequer está assegurada a qualidade da
educação. Porque a parte formada por meia dúzia de instituições com nível
aceitável, vocacionadas para acolher os filhos da elite financeira e da
corrupção, não passa de um ilhéu no meio de um oceano poluído de escolas e
escolinhas criadas para viver à custa das tetas do Estado, com a agravante de,
em muitos casos, imporem ensino confessional num país que é oficialmente laico.
Esta situação é mais uma pincelada forte no retrato
degradante do Portugal dos tempos que correm. O governo em exercício, como
parte de um dito “arco da governação” temente à senhora Merkel e às hordas
financeiras cujos interesses ela manda aplicar, não descansará enquanto todo o
Estado não for privatizado, enquanto os elementares serviços a prestar aos
cidadãos não sejam pagos e a bom preço para nutrir as contas dos donos de
Portugal bem acondicionadas no estrangeiro, de preferência em paraísos fiscais.
A Constituição da República, no quadro do respeito estrito
pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, determina o direito de todos à
saúde e à educação. O governo em exercício, atacando ostensivamente a
Constituição, vem degradando a saúde a níveis anteriores ao Sistema Nacional de
Saúde e, por vias indirectas, vai expulsando das escolas aqueles que são os
filhos das famílias – esmagadoramente maioritárias no todo nacional – vítimas da
cruel austeridade.
O recurso do governo ao ensino privado não é uma medida
supletiva decorrente de circunstâncias existentes e destinada a suprir carências.
Nada disso: é uma opção ideológica praticada em prejuízo do Estado e dos
contribuintes, em benefício de uma clientela que medra à sombra do sistema
corrupto de privatização do país. Enquanto isso, o governo ataca os professores
como se fossem párias, obrigando as multidões de desempregados e desempregadas
a mendigarem trabalho em escolas privadas, onde serão sujeitos às epidemias da
moda desde o trabalho precário ao jogo sinistro da ameaça do despedimento
arbitrário e do desemprego. A provar esta opção está o facto escabroso de o
governo pagar turmas em colégios privados situados nas imediações das escolas
públicas, assim deixando uma dica importante: multipliquem-se escolas privadas,
onde quer que seja, porque o Estado não deixará de as abastecer.
Este ano serão mais de 600 novas turmas e mais 53 milhões de
euros do nosso dinheiro deitados para o lixo. Imaginem quantas turmas serão
para o ano e quantos mais milhões serão inutilizados se uma qualquer versão do “arco
da governação” for reabastecida com o combustível do voto popular.
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