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terça-feira, 28 de julho de 2015

OBAMA DA TRISTE FIGURA


Há quem diga, com um sentido de benevolência que entra sem apelo no terreno da cumplicidade ideológica, que o actual presidente dos Estados Unidos da América tem um desempenho no segundo mandato que ficará para a História.
Até pode ser que isso aconteça. Barack Obama é, sem qualquer dúvida, o autor do maior número de execuções extrajudiciais de que há memória, através das suas ordens de tiro ao alvo com drones, e se a História o registar como tal não poderá dizer-se que seja pelos melhores e mais humanistas dos motivos.
O homem que fez a sua primeira campanha eleitoral, já lá vão quase oito anos, prometendo o encerramento do campo de concentração de Guantanamo e que recentemente anunciou, mais uma vez, um programa para o desactivar, é o mesmo que iria extinguir a chamada “guerra contra o terrorismo” inventada por George W. Bush, e apenas lhe trocou os nomes.
Síria, Líbia, as mistificações que ficaram conhecidas como “primavera árabe”, Bahrein, Iémen, Egipto, o adiamento constante dos direitos palestinianos, a criação do bando de mercenários do Estado Islâmico, Ucrânia, expansionismo permanente da NATO são exemplos do tal bom desempenho no segundo mandato de Obama.
Todos esses casos ilustram a mentalidade terrorista do presidente norte-americano, enovelada cada vez mais nas contradições do que ele qualifica como uma estratégia contra o terrorismo.
Há poucos dias, no Congresso de Washington, o secretário da Defesa da administração Obama, Ashton Carter, reconheceu que o programa para treinar mercenários “moderados” supostamente para combater o Estado Islâmico na Síria, orçado em 500 milhões de dólares, não conseguiu mais do que 60 recrutas dentro de um objectivo de 3000 até final deste ano e de 5400 anualmente. Passemos sobre a módica quantia de 10 milhões de dólares por cada terrorista “moderado” e entremos no fulcro da questão. Esta ideia dos “moderados” está associada ao chamado Exército Livre da Síria, uma coisa criada pelos Estados Unidos inicialmente para combater e derrotar o regime sírio dirigido pelo presidente Bachar Assad. Durante os anos de existência até agora, os mercenários deste grupo não têm feito mais do que combater ao lado da Al-Qaida e do Estado Islâmico – sendo este reconhecidamente apoiado também por Israel. Ultimamente, à medida que se ia aproximando o acordo entre Washington e o Irão, os “moderados” foram também encarregados de combater o Estado islâmico, isto é, em teoria, obrigados guerrear em duas frentes.
No mesmo debate no Congresso, aparentando uma desilusão longe de ser genuína, o senador neofascista McCain, também conhecido por ser o controleiro do Estado islâmico (há fotos que o provam), admitiu que 60 “moderados” não chegam para as encomendas; para conseguir mais recrutas, sugeriu, é preciso dar-lhes a garantia de que não seriam atacados pelo exército regular sírio. Como? Compete aos Estados Unidos fazer com que as tropas de Damasco não tenham condições para atacar os “moderados”, de modo a que estes se entretenham com o ISIS. Curto e grosso: o senador McCain quer que as tropas norte-americanas intervenham para derrubar Assad enquanto os “moderados” fazem cócegas ao Estado Islâmico, acabando por se fundir com este.
Dir-se-á: McCain tem feito oposição a Obama. Pois, mas toda a política de Obama no Médio Oriente e na Ucrânia, para não ir mais longe, tem dado um jeitão aos mais conservadores dos conservadores e belicistas internos, rivalizando com eles para ver quem é mais trauliteiro.
A verdade é que Obama, no segundo mandato tal como no primeiro, deixa um rasto de guerra e sangue onde toca. Há poucos dias, o presidente da Nigéria, marginalizado por Washington por causa de alegadas violações dos direitos humanos, denunciou a administração de Washington por apoiar, na prática, os facínoras do Boko Haram.
Quando não se tem princípios na gestão do bem público é natural que se entre na roda vertiginosa dos sem-princípios. Foi a escolha de Obama, esperando-se que a História não venha a absolvê-lo.



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