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quinta-feira, 23 de julho de 2015

A DÍVIDA E O PAI NATAL


O primeiro ministro de Portugal em exercício, mais o seu vice, mais o resto do governo, mais os ex-governantes e respectivos deputados, enfim, o “arco da governação” que chamou e alimentou a troika continuam a querer fazer de todos nós imbecis. É que a dívida pública portuguesa, além de ser parte de uma dívida soberana incobrável, no que não difere da situação grega mais milhar de milhão menos milhar de milhão, continua a subir como um míssil - mas em absoluto descontrolo - enquanto os responsáveis pelo fenómeno trocam culpas e acusações exigindo às vítimas que continuem a lançar os seus cada vez mais minguados rendimentos para um poço sem fundo.
Portugal é diferente da Grécia? Será… Mas apenas por enquanto, porque para lá caminha e outros se seguirão se os candidatos a imbecis, que somos todos nós vivendo dentro da União Europeia e da Zona Euro, não lhes dissermos que já chega.
Não se pense que os dados demonstrativos de que a dívida trepa sem cessar resultam de contas distorcidas elaboradas por mal-intencionados economistas de esquerda, como o “arco” e seus cúmplices gostam de argumentar. Os números são do Banco de Portugal, e se a instituição em si mesma, ou pelo menos quem a dirige, não deva ser considerada de confiança, os valores parecem sê-lo, porque se fossem alvo das conhecidas marteladas estatísticas não apareceriam tão nus e crus ante os nossos olhos.
Pois revela o Banco de Portugal que num só mês, de Abril para Maio, a dívida pública portuguesa cresceu 3777 milhões de euros, atingindo a soma astronómica de 229204 milhões de euros, uma coisa que chega quase aos 20850 euros por cada português – um pouco mais porque, como sabemos, as elites estão dispensadas de participar neste “esforço nacional”. Ou seja, só num mês a dívida pública portuguesa cresceu quase cinco por cento do valor total da “ajuda” da troika, como se sabe no valor de 76 mil milhões e que tinha como objectivo proclamado pelos governos responsáveis pagar uma dívida que cresce…Cresce… Cresce…
Recordando um pouco os argumentos dos últimos primeiros-ministros portugueses, sempre indispostos para renegociar a dívida, o que, segundo eles, seria coisa de “caloteiros”, os caminhos para sermos uns devedores bem comportados estão bifurcados em austeridade e competitividade, panaceia esta que nos transformaria em bons exportadores e menos bons importadores, assim se virando a balança comercial a nosso favor. Pois bem, ou mal, neste caso, sobre os efeitos da austeridade na vida dos cidadãos, provocando ainda o caos no tecido económico nacional, estamos conversados; quando à balança comercial, eis o que também nos diz o Banco de Portugal: nos cinco primeiros meses deste ano o défice foi de 911,1 milhões de euros, contra um balanço também negativo de 776,1 milhões no mesmo período do ano passado. A panaceia fracassou, como se sabia e o governo contrariava a pés juntos com base em meros e episódicos afloramentos positivos.
O Banco de Portugal, que por esta via não tardará a engrossar as “forças de bloqueio” apontadas a dedo pelo primeiro-ministro em exercício e seu excitado vice, diz-nos ainda que as contas externas do país registaram de Janeiro a Maio um défice de 103 milhões de euros, um valor que – reparem nisto – traduz uma degradação de 471,6 milhões em comparação com os primeiros cinco meses de 2014.
Eis pois, senhoras e senhores, o país saudável e recuperado, como ele gosta de dizer, que o senhor primeiro-ministro de Portugal nos deixa a menos de três meses das próximas eleições gerais. Ele, coitado, diz-se enganado pelo governo anterior, e por isso teve de aumentar brutalmente os impostos quando prometera diminuí-los, carregou selvaticamente na austeridade quando jurara acabar com ela, expulsou quase meio milhão de portugueses depois de garantir que viria aí emprego e crescimento económico. Enquanto a dívida soberana, de 102 por cento do PIB há quatro anos já passou por cima dos 130 por cento e assim continua a galope.
Pois se ele se diz enganado pelo anterior governo, os cidadãos foram burlados por ambos e também por quantos os antecederam até ao primeiro – já lá vão décadas – que resolveu ajustar contas com o 25 de Abril a coberto dos interesses malfeitores que gerem a União Europeia e a moeda única.

É oficial: se daqui dois meses e picos os portugueses aceitarem ir pelos mesmos caminhos é porque acreditam no pai natal e outros mitos mágicos. 

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