Os anexos bilaterais do chamado acordo 5+1 estabelecido
entre as principais potências mundiais e o Irão já começaram a fazer efeitos.
Não, nada disso, os êxitos militares contra os facínoras do
Estado Islâmico (ou Isis ou Daesh) obtidos no âmbito da esfera norte-americana
são apenas conjunturais ou mitigados, nada que impeça o grupo de prosseguir a
transferência para zonas russas ou russófonas. Existem, é certo, algumas ideias
negociais relacionadas com a pacificação da Síria; no Líbano movem-se pedras no
sentido de clarificar o assassínio do anti presidente Hariri, cuja inspiração
foi atribuída – contra todas as evidências – ao regime de Damasco e que tem
sido o único pretexto para acusar a Síria da prática de terrorismo. No entanto,
estes processos estão ainda no início e, embora inseridos no ambiente criado
pelos acordos, não é certo que prossigam no sentido de acabar com as
mistificações e fazer valer a realidade dos factos e o direito internacional.
O primeiro grande efeito do acordo Estados Unidos-Irão é a
queda do Sul do Iémen, com a capital em Aden, nas mãos da chamada Força Árabe
Comum, uma entidade que é, na prática e à luz entendimento entre Washington e
Teerão, uma coligação militar encabeçada pela Arábia Saudita e Israel. Esta “santa
aliança” – e como é apropriada a designação! – não é novidade: tem funcionado,
por exemplo, no apoio ao Estado Islâmico contra a Síria e pelo desmantelamento
do Iraque; sabe-se também que pilotos israelitas combatem aos comandos de caças
sauditas na guerra civil no Iémen.
O facto é que esta coligação tomou conta de Aden, expulsando
os xiitas fiéis a Mohamed Huti, presidente em exercício em Sanaa, a capital. Na
sequência do triunfo, a coligação reinstalou Abd Mansour Hadi como presidente,
para já na capital do Sul do país. E se Huti chegara ao poder por golpe de
Estado a legitimidade de Hadi – o protegido da Arábia Saudita – não é maior, porque
o prazo de validade do seu mandato terminou há muito.
A presença da Força Árabe Comum no Sul do Iémen significa a
reinstalação da NATO na região, assumindo o controlo absoluto do estratégico
Estreito de Bab el Mandeb, que separa a Península Arábica e a Ásia de África.
Esse controlo quer dizer domínio militar e petróleo, muito petróleo, não apenas
no Sul do Iémen mas também na região do Ogaden, na Etiópia.
Não se pense, porém, que o triunfo militar da santa aliança
se deve aos seus muitos méritos. A razão principal é a saída de campo do Irão,
que sustentava os xiitas Hutis na guerra civil iemenita. Teerão abandonou o
terreno para cumprir o acordo estabelecido com Washington.
A chegada da coligação entre a Arábia Saudita e Israel à região
meridional iemenita significa também que já não existem obstáculos para que a
petroditadura de Riade e o regime confessional de Telavive transformem em
realidade o projecto de construção da ponte sobre o estreito, ligando Aden a
Djibuti, no extremo do Corno de África, na prática uma colónia francesa sob
administração militar da NATO, logo norte-americana.
A adjudicação da imponente obra já foi feita. Ignora-se se houve
concurso, mas isso são formalidades dispensáveis e irrelevantes. Quem
construirá a ponte sobre o Estreito de Bab El Mandeb será o Ben Laden Group da
Arábia Saudita. Não, não se trata de uma coincidência: é o grupo da família de
Bin Laden, o terrorista-mor, dirigido por um irmão deste. 11 de Setembro? Tanta
água passou já por debaixo das pontes, mesmo as que ainda estão por construir…
O marcador apenso ao acordo entre os Estados Unidos e o Irão
já funcionou. Império, 1 – Irão, 0.
Sem comentários:
Enviar um comentário