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segunda-feira, 13 de julho de 2015

O IV REICH


Todos e qualquer um dos envolvidos na chamada “maratona negocial” de Bruxelas – se é que aquilo teve alguma coisa de negocial – podem reclamar o seu pedacinho de “acordo”, até a paternidade do êxito, como faz o primeiro ministro de Portugal em exercício, mas o mais fácil de tudo é identificar as vítimas: os gregos e, com eles, todos os povos da Europa.
Em bicos de pés, à deriva como sempre, Hollande ufana-se de ter driblado a estratégia alemã de expulsar a Grécia do Euro; Tsipras, que vai ter de explicar a quase dois terços dos gregos que disseram não à troika e à austeridade porque é que eles vão continuar a receber visitas da troika para os esmagar com a austeridade, argumenta que foram derrotados os intentos das forças mais conservadoras da Europa; Tusk, Juncker, Djesselbloem e companhia dirão o que muito bem lhes apetecer por tudo lhes ser permitido.
A senhora Merkel, porém, limita-se a dizer que a Grécia “ainda tem um longo caminho a percorrer” para que o acordo se transforme em nova ajuda envenenada que garantirá mais recessão em cima dos 25% já acumulados – o diagnóstico é feito pelo insuspeito canal Bloomberg.
O senhor Schauble, esse conserva o sábio silêncio dos vencedores. Os mercados respiram aliviados, as bolsas navegam em euforia, os credores afinam as contas à luz das novas operações especulativas que aí vêm. O senhor Schauble pode gozar o triunfo em silêncio, os factos falam por ele, o IV Reich venceu um duro teste e, por isso, sai dele mais reforçado.
A Alemanha pretendia a saída da Grécia da Zona Euro e não o conseguiu? É meia verdade. A saída seria a situação limite no caso de o governo grego manter as exigências que começou por apresentar; Berlim, porém, não desejava a saída pela saída. Esta funcionaria como um castigo exemplar para um caso de persistente rebeldia, mas tornar-se-ia desnecessária se essa atitude se desvanecesse através dos processos de chantagem a que as instituições e dirigentes europeus chamam “negociação”.
Como o governo grego cedeu, e permite até que o processo de privatização do país seja, um quarto de século depois, uma réplica da liquidação da RDA, pode evitar-se a saída do país do Euro e as concomitantes perturbações nos mercados. O exemplo para os eventuais recalcitrantes ficou dado, a par da demonstração de que não há alternativa à austeridade e à liquidação sistemática dos direitos sociais, laborais e humanos. Perfeito.
Reina agora a paz no IV Reich. A experiência de um governo fora do arco da governação, como a que foi tentada na Grécia, está em frangalhos meio ano depois; a troika continua viva e de boa saúde para que os credores recebam tudo a que têm e não têm direito; as dívidas soberanas, impossíveis de pagar, poderão ultrapassar em breve os 200% dos PIB – o que não será difícil com a acelerada degradação destes – pelo que os especuladores exultam. A senhora Merkel necessitou de apenas meia dúzia de horas para reencontrar a moeda de “confiança” que alegou ter perdido antes da reunião fatal para os gregos. E para que o fundo de garantia da “ajuda” à Grécia construído a partir das privatizações do que ainda resta no país não descarrile, por detrás da ideia e da execução estão instituições financeiras alemãs tituladas por gente idónea como o senhor Schauble e o senhor Sigmar Gabriel, o chefe dos sociais- democratas, aliás os inventores da engenhosa estratégia de privatização da RDA.
Alguns ingénuos poderão interrogar-se: mas por onde andam a democracia, a vontade dos povos, no meio disto tudo? A resposta é simples: o IV Reich, como os anteriores, não se orienta pelos ideais democráticos mas sim pelo respeito dos genuínos interesses alemães, na Alemanha e em toda a parte.
Assim nasceram duas guerras mundiais, sem que tenha desaparecido a arrogância germânica, enquanto vai crescendo a sede de vingança. Realidade que se percebe na ânsia não apenas de derrotar os mais fracos, mas também de os humilhar.


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