As ligações umbilicais entre a NATO e a União Europeia não
resultam apenas do facto de 23 dos 28 membros da segunda serem igualmente membros
da primeira. A NATO funciona, sem qualquer dúvida, como braço armado da União
Europeia, comandado operacionalmente pelos Estados Unidos da América, num
processo de fusão que os dirigentes de ambas as entidades fazem, aliás, questão
de afirmar sem ambiguidades.
A afinidade dos objectivos estratégicos proclamados pela
NATO, através da voz do seu secretário-geral, o ex-primeiro ministro norueguês
Jens Stoltenberg, e da União Europeia, através da italiana Federica Mogherini,
responsável pelas relações externas, transformou-se num afinado dueto.
Enquanto a NATO afirma que está a organizar-se para uma
guerra em duas frentes – a Oriente contra a Rússia e no Mediterrâneo a pretexto
da situação no Médio Oriente e da crise dos refugiados – a União Europeia
assegura, Mogherini o disse, que os seus membros irão, a partir de agora,
reforçar ainda mais os orçamentos militares, devido aos desafios securitários
nas regiões banhadas pelo Mediterrâneo e às ameaças russas no Leste. Crise
grega, estagnação e crise económicas persistentes, a União Europeia em 172º
lugar no ranking mundial das taxas de crescimento económico? Não importa: as
ameaças russas, dos refugiados esfomeados e das réplicas da guerra imposta na
Síria são também razões mais do que suficientes para que não haja alternativa à
austeridade.
Stoltenberg e Mogherini – que passou a ser figura
omnipresente nas reuniões da NATO – afiançam que todos os esforços devem ser
feitos para salvar a Ucrânia e a Geórgia das garras russas, ao mesmo tempo que é
preciso instaurar um governo unitário na Líbia. O secretário- geral da NATO
reconhece que as operações da aliança em 2013 foram um êxito na maneira como
libertaram os civis da ditadura de Khadaffi, porém a situação não é
satisfatória, pelo que tudo se conjuga para que tropas atlantistas voltem à
Líbia, novamente com o protagonismo de países da União Europeia - França, Reino
Unido e Itália, como há dois anos.
Na Líbia, as tropas da NATO irão encontrar pela frente
milícias associadas ao Estado Islâmico, as mesmas que foram suas aliadas na
guerra para derrubar e assassinar Khaddaffi.
Mas as alianças que parecem ser passado na Líbia são ainda
presente na Europa Oriental. O New York Times reconheceu que três batalhões
fundamentalistas islâmicos, dois constituídos por chechenos e um por tártaros,
participam ao lado das tropas de Kiev, sustentadas pela NATO, e das milícias nazis,
treinadas por esta aliança, na vaga de terror contra as populações do Leste e
Sudeste da Ucrânia.
Por detrás destes batalhões não estão apenas a NATO e os
nazis ucranianos, mas também o Estado Islâmico, uma vez que os mercenários que
os compõem foram transferidos das hordas envolvidas na guerra civil síria. Para
se ter uma ideia de como os mercenários islâmicos originários do Cáucaso têm
peso no Estado Islâmico basta a informação de que o russo ultrapassou o árabe
como língua dominante no comando da mais poderosa organização terrorista da
actualidade – não incluindo os Estados terroristas, como é óbvio.
São ínvios, pois, os caminhos da NATO e da União Europeia,
nos seus generosos e pacíficos combates pela democracia. E não se pense que o dueto
formado por Stoltenberg e Mogherini afina formalmente pela direita encafuada no
Partido Popular. O norueguês foi primeiro- ministro pelos trabalhistas; e a
italiana integra o Partido Democrático, uma associação pouco recomendável que
serviu para extinguir os velhos partidos Comunista e Socialista italianos,
liderada por Mateo Renzi, esse inspirado primeiro-ministro que vê nas petroditaduras
do Golfo a redenção da União Europeia.
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