O Estado de Israel interrompeu mais uma vez com um assalto
pirata a rota de um navio com a bandeira de um país da União Europeia que
pretendia levar bens essenciais à população de Gaza que vive cercada, asfixiada,
indefesa e sob a mira das sofisticadas armas de guerra do mesmo Estado de
Israel. Entre os materiais transportados a bordo do Marianne, um barco
registado no porto de Gotemburgo, estavam, por exemplo, painéis solares
destinados a tentar suprir as carências em energia provocadas no território
pelos constantes assaltos militares israelitas.
Três navios de guerra israelitas interceptaram o barco da
solidariedade cerca de 100 milhas náuticas ao largo da costa de Gaza, logo em
águas internacionais, onde as quais as embarcações israelitas não têm qualquer
jurisdição nem poder. O sequestro que se seguiu à intercepção e a apropriação arbitrária
dos bens transportados na embarcação, incluindo os haveres de passageiros e
tripulantes, depois detidos numa prisão no território de Israel, são factos que
contribuem, sem qualquer dúvida, para que este comportamento das autoridades
israelitas seja um acto de pirataria.
Acresce que Israel não tem qualquer autoridade sobre Gaza,
parte integrante de um Estado associado das Nações Unidas, um estatuto idêntico
ao do Vaticano e que pode, muito em breve, ser ampliado para o de pleno
direito.
Não é necessário puxar pela memória para recordar os
episódios ocorridos quando a propaganda internacional insuflou a crise dos
chamados “piratas somalis”, que aliás teve a sua origem nos esforços dos
pescadores somalis para evitar a rapina das riquezas marinhas do seu país pelas
poderosas, bem equipadas, e daninhas frotas internacionais. A NATO mobilizou
então numerosos navios dos seus membros para submeter os piratas e assegurar a continuação
do desastre humanitário e ambiental. E para que as tentações “piratas” sejam
liquidadas à nascença até nasceu no território somali uma coisa à margem da
ordem internacional chamada Somalilândia, gerida por quem? Por israelitas ou
marionetas de Israel.
Embora o acto de pirataria contra o Marianne – um navio
sueco, nunca será demais lembrá-lo – tenha acontecido na manhã de 29 de Junho o
que é que aconteceu, ou melhor, o que é que não aconteceu desde então?
O Conselho de Segurança das Nações Unidas não se reuniu de
emergência, não emitiu qualquer parecer sobre o assunto, a propaganda internacional
não fala de sanções contra os piratas nem de qualquer outro tipo de
penalização.
A NATO não convocou navios dos seus Estados membros para
irem reprimir o comportamento pirata.
A Comissão Europeia, o Conselho Europeu, o presidente do
Parlamento Europeu não tomaram qualquer posição sobre os acontecimentos, apesar
de as vítimas serem cidadãos europeus e de o navio alvo do acto de pirataria
ostentar a bandeira de um dos 28 Estados da União Europeia.
Apesar de a embarcação se situar muito longe das águas
territoriais israelitas quando foi atacada, o Estado de Israel informa o mundo
que exigiu três vezes aos tripulantes do Marianne que desviassem a rota de
Gaza. Israel, repete-se, não tem qualquer jurisdição sobre Gaza nem poder para
dar ordens em águas internacionais. Não eram os responsáveis da embarcação
sueca quem navegava em violação do direito marítimo, pelo que não tinham de
obedecer a ordens ilegítimas, e muito menos ser penalizados por tal.
O que aconteceu foi um acto de pirataria cometido por
Israel, e não foi o primeiro, como o mundo sabe.
Pelo que dos feitos apenas há uma conclusão a retirar: a
pirataria tornou-se um comportamento aceite pelo direito internacional, ou,
pelo menos, por aqueles que se dizem titulares do poder para o fazer cumprir.
Não é novidade, mas regista-se: o mundo é gerido por gente
com mentalidade e interesses de piratas.
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